O Colégio Agrícola de Muzambinho proporcionou um novo horizonte para a carreira de Messias Gonzaga Pereira

Publicado: Quinta, 28 de Setembro de 2023, 09h12 | Última atualização em Quinta, 28 de Setembro de 2023, 09h13

DSC 0127Ao longo destes 70 anos, o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho passou por diversas transformações em seus processos de ensino e aprendizagem, acompanhando sempre as diretrizes que inicialmente eram repassadas pelo Ministério da Agricultura e posteriormente pelo Ministério da Educação. A personalidade que integrou a história da Instituição apresentará parte do que vivenciou entre os anos de 1973 e 1975.

Messias Gonzaga Pereira, nasceu em Guaranésia - Minas Gerais, cidade que fica a 36 quilômetros de Muzambinho. Filho dos sitiantes, Luiz Gonzaga Pinto e Adélia Augusta Pinto, tem sete irmãos e sempre teve uma relação próxima com a terra. Trabalhava com a família durante o dia e a noite fazia o Ginásio. Ao concluir o Colégio Ginasial, Messias acreditava que havia chegado ao fim de sua jornada acadêmica, pois para seguir com seus estudos teria que frequentar a escola durante o dia e isso comprometeria a rotina de trabalho no sítio da família.

No entanto, houve a participação de um amigo e do pai dele. Ambos sabiam da existência do Colégio Agrícola de Muzambinho, o amigo queria estudar aqui e falou com Messias sobre a possibilidade. Então o pai de seu amigo foi conversar com o pai de Messias, que concordou que o seu filho viesse com o amigo fazer o vestibular para ingressar no Curso Técnico Agrícola. Messias foi aprovado em quarto lugar, ele contou que a maior parte das vagas era destinada a alunos que vinham de Colégios Agrícolas como os das cidades de Barbacena, Inconfidentes e Ouro Fino. “Mas sobravam algumas vagas, então no ano que eu entrei aqui, nós tínhamos 30 vagas disponíveis. E viemos, um pouco mais de 300 alunos, que fizemos na época o chamado ginasial e [...] fizemos um teste de admissão, um processo seletivo, então nessas 30 vagas, a gente conseguiu estar incluído nesse grupo, [...] então tive o privilégio de pertencer a essa casa nessa época”.

Messias foi um estudante engajado e envolvido nas atividades escolares da Instituição. Ele se recorda do período em que deixou sua família em Guaranésia e mudou-se para o Colégio Agrícola de Muzambinho. Na época, de acordo com ele, era um grande desafio deixar a casa paterna e vir estudar. Messias explica que em cada alojamento havia em média 60 camas e que no período de transição alguns alunos acabavam desistindo dos estudos. O egresso comenta que na época os trotes eram mais severos e uma das ações que sua turma buscou fazer ao longo dos anos que estudou na Instituição foi minimizar a situação.

O egresso do Colégio Agrícola explica que os três anos em que passou estudando em Muzambinho foi um período de muita alegria e trabalho. “A Escola tinha um sistema interessante que, parte do dia era dedicado ao campo, a gente chamava de Programa Agrícola Orientado - PAO e tinha outra parte que era LPP - Laboratório de Prática e Produção, onde nós tínhamos nossos próprios projetos e na parte da tarde eram as disciplinas eletivas: química, física, indústria, máquinas e assim por diante, a formação acadêmica era na parte da tarde”. De acordo com ele, ao final do curso, os estudantes estavam prontos para o mercado de trabalho.

9Q6A9583Messias, como filho de sitiante, recorda feliz que ao final do curso já direcionava diversas ações nas produções do sítio. “Na minha casa eu passei a direcionar os trabalhos do meu pai: quais as adubações, época de plantio, tratos culturais. Ele aguardava a minha posição”. O egresso destaca um fato interessante da época, ao mencionar que os agricultores viam os Técnicos Agrícolas como doutores, inclusive eram chamados com este título. “A gente, na verdade, não tinha muita noção da carreira acadêmica, mas o agricultor, via nesses técnicos agrícolas, os doutores, as pessoas que iam dar o direcionamento para ele”.

Na visão de Messias, o Colégio Agrícola foi um ponto de virada em sua vida. Para ele, os estudos estavam finalizados quando terminou o Ginásio, pois precisava ajudar o pai no sítio, mas ele teve a oportunidade de seguir estudando e descobrir um novo horizonte para a sua jornada. “Eu me lembro, inclusive de um professor em particular, o Professor Farid, ele dava aula das disciplinas de agricultura e das práticas. Ele não só dava aula de agricultura, ele falava das faculdades de agronomia. Ele relatava, na época, as três melhores na opinião dele, que seriam a da [cidade] de Lavras, de Piracicaba e a de Viçosa. Ele não descartava outras, mas chamava atenção para essas três. [...] Então, eu passei a vislumbrar um horizonte que era desconhecido para mim. [...] Além de me preparar para o trabalho, que é algo bastante relevante, eu acho que o mais importante foi a gente ter acesso a esse novo mundo. [...] não só do conhecimento técnico, mas da visão de mundo que a gente teve na época, até pela fase que a gente estava vivendo, que é uma fase de adolescência, de transformação, então acho que realmente foi muito importante”.

Algo que Messias se recorda da época foi uma ação em conjunto para gramar o campo de futebol do colégio. O professor Ivan de Freitas era quem ministrava as aulas de Educação Física e os estudantes praticavam diversas modalidades esportivas como corrida e salto a distância, mas o campo de futebol era de terra batida. O professor então propôs que os estudantes, na época pouco mais de 300, gramassem o espaço. De acordo com o egresso, os jovens fizeram os cálculos e a área para cada aluno girava em torno de 25 metros quadrados. Messias explica que o processo não era tão simples como se vê na atualidade, era necessário retirar a grama do pasto. “Um dos colegas, o Carlos Martins, de origem de Nova Resende, ele na época era o gerente da cooperativa, a qual eu fazia parte. Ele era um exímio tratorista, então ele se propôs a ir no pasto, ir virando as placas de grama e as pessoas então iam com carreta transportando para o campo e cada um fazia a sua quadrazinha [...] e ficou um campo espetacular. Então, hoje a gente passa ali, não há como não lembrar dessa fase, [...] da formação do campo, totalmente feita por um grupo de alunos da época, isso deve ter sido em 75”.DSC 0131

Messias se destaca por recordar com detalhes o período em que estudou no Colégio Agrícola. Entre as passagens que conta, ele menciona que cada estudante tinha um projeto próprio e que ele, ao lado de colegas, montou uma equipe para produzir mudas de café e eucalipto. Os jovens comercializavam as mudas às margens da rodovia e o lucro ficava para os próprios estudantes. Um projeto era escrito, apresentado e aprovado por um professor e o aluno era o responsável por realizar toda a gestão da atividade.

A COOPAM foi palco de alguns projetos desenvolvidos na gestão em que Messias foi presidente. Ele relembra saudoso sobre o tempo em que atuou com o Jair, Carlos e Lázaro. Ele explica que havia o conselho fiscal, mas esses eram os quatro nomes, incluindo o seu, que compunham a diretoria da Cooperativa. A Cooperativa Escola, de acordo com o egresso, era responsável por comprar adubos, sementes e apoiar os alunos no desenvolvimento de suas atividades, inclusive nos projetos.

“Nós criamos o chamado fundo rotativo na cooperativa. Significa o que? O aluno vendia a safra de milho, em vez dele retirar tudo, ele deixava 30% [com a Cooperativa]. Esses 30%, ele só recebia quando fosse embora da escola. Então, com os 30% dos que estavam colhendo, era financiado dos próximos que ainda não tinham dinheiro. A gente pode fazer projetos maiores, por exemplo, o de confinamento [...] na compra dos bezerros ou garrotes. Então esses projetos passaram a ser factíveis por esse fundo rotativo”.

Outro ponto que o egresso relembra orgulhoso é sobre a sua facilidade em atuar com a tração animal. No sítio de sua família a prática era rotineira e Messias conta que atuou com a condução do animal no cultivo da terra. Inclusive uma plantação de milho foi totalmente manuseada com a tração animal, com comandos verbais, e os recursos da comercialização dos grãos foram destinados à Cooperativa dos Alunos.

A Diretoria da COOPAM decidiu que era o momento de melhorar o fundo da Cooperativa e, a pedido do Diretor-Geral da época, professor José Rossi, iniciaram a plantação de eucalipto em uma área próxima a usina hidrelétrica. A reforma estatutária também foi realizada durante a gestão do egresso.

DSC 0133Messias tem uma lembrança curiosa da época em que a Cooperativa ficava próxima ao setor de mecanização. As apostilas utilizadas nas disciplinas eram confeccionadas pelos integrantes da COOPAM. Messias aprendeu datilografia em uma apostila para poder executar a tarefa. Ele datilografava em papel de stencil na máquina de escrever e depois usava o mimeógrafo para reproduzir as apostilas.

As recordações de Messias são repletas de detalhes, ele formou-se há 48 anos e ainda se lembra do número que era designado a ele, o 240. Cada estudante tinha um número e suas atividades eram conferidas por meio desta identificação. Ele conta que os inspetores verificavam os dormitórios com a identificação numérica, assim como as refeições eram contabilizadas com os números.

“Na entrada do refeitório, o controle era por esse número. Era um número de madeira [...] e tinham dois quadros. A entrada não é onde está hoje, era do lado oposto. A gente entrava em fila, a hora que passava por essa primeira placa, cada um pegava o número, [...] andava uns 20 metros para frente e tinha outra estrutura de ganchos, ali a gente tornava a fixar o número”. O sistema adotado auxiliava a equipe do refeitório na contabilização dos alunos que já haviam realizado sua refeição e os que estavam por chegar.

Messias vivenciou diversas experiências no Colégio Agrícola de Muzambinho e a bagagem adquirida, ao longo dos anos, fez com que seu horizonte fosse ampliado. Messias conta que o Colégio foi um trampolim em sua vida. Ele concluiu o curso técnico, já estava com emprego garantido, mas o mesmo amigo que o convidou para participar do vestibular em Muzambinho, realizou sua inscrição para o processo seletivo da Universidade Federal de Viçosa. Ali Messias seguiu com sua carreira acadêmica, se tornou professor da casa, assim que se formou em Agronomia.

A carreira de Messias tem sido promissora desde o início. Na universidade ele aproximou-se da área acadêmica e deu continuidade em seus estudos. Ele desenvolveu o seu doutorado nos Estados Unidos e aplicou no Brasil o conhecimento adquirido sobre marcadores de DNA e melhoramento de plantas, leciona há mais de 25 anos na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, no Rio de Janeiro, mas sua carreira de docente atinge a marca de mais de 4 décadas. Messias é pesquisador no CNPQ com bolsa PQ categoria/nível 1A há cerca de 10 anos.

Ao longo dos anos foi orientador de diversos mestrandos, doutorandos e pós-doutorandos. Realizou atividades ligadas ao melhoramento de plantas: cacau, milho, feijão, soja, entre outros. Atualmente está iniciando um novo caminho, o egresso do Colégio Agrícola de Muzambinho está empreendendo em uma empresa que propicia ao produtor de mamão a sexagem precoce em viveiro.

Messias é casado há 40 anos com a senhora Telma Nair Santana Pereira, ela também é professora universitária, são pais de dois filhos: Marina Santana Pereira e Daniel Santana Pereira e avô da Luiza, Pedro, Heitor e Bernardo.
Ao fim da entrevista, Messias conta que tem gratidão pela Instituição e que uma sobrinha neta está finalizando o curso de Medicina Veterinária no IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho.DSC 0145

Para finalizar a participação de Messias na série de reportagens especiais sobre os 70 anos, o egresso deixou uma mensagem para os atuais estudantes do Campus Muzambinho. “A geração que está começando hoje tem um horizonte de desafios pela frente, mas nada que desanime, muito pelo contrário, vocês têm também ferramentas muito poderosas para auxiliar nesse processo. O que aconteceu comigo, eu tenho muito orgulho da minha história, por isso relatei aqui, de uma maneira contextualizada, eu tenho certeza que cada um tem a sua história e cada um vai fazer a sua história. E não vão ser outros Messias, serão melhores, serão pessoas que poderão ser os novos ministros da Agricultura, presidente da Embrapa de Pesquisa e reitores de Universidade. O futuro pertence aos que hoje estão começando”.

Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho

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