João Eduardo revela o papel que os professores da Escola tiveram em sua trajetória

Publicado: Sexta, 08 de Dezembro de 2023, 11h37 | Última atualização em Sexta, 08 de Dezembro de 2023, 11h37

9Q6A0835 1Na época em que o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho era chamado de Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, os estudantes que compunham o corpo discente da Instituição eram de diversos estados do Brasil. O nosso personagem de mais um capítulo dos 70 anos é natural da cidade de Mococa, em São Paulo, um dos seis filhos de João Hugo de Almeida e Maria das Dores Melo Almeida. Vamos retratar a história de João Eduardo Melo de Almeida.

O pai de João Eduardo é técnico em agropecuária, ele cresceu vendo as atividades laborais do pai e desejava fazer o mesmo curso. Em sua cabeça passava o seguinte: “Eu tenho que ser igual ao meu pai, pelo menos o curso técnico em agropecuária eu tenho que fazer". A família de João Eduardo tinha forte ligação com a agricultura e a agropecuária. Diante desses fatos, ele decidiu que deveria estudar em Muzambinho.

A distância de Mococa para Muzambinho era próxima, o que tornava a Escola ainda mais atraente. Sem contar que a fama da Escola Agrotécnica era comentada em toda a região. Apesar da grande concorrência para o ingresso, João Eduardo decidiu prestar o vestibular e foi aprovado. Ingressou no Curso Técnico em Agropecuário Integrado ao Ensino Médio no ano de 1998 e formou-se em 2000.

Quando ingressou no curso, a Escola ofertava apenas o Curso de Agropecuária e eram formadas quatro turmas de 40 alunos, ao todo ingressam anualmente 160 estudantes. O professor Ivan Antônio de Freitas era o diretor à época e recepcionava os alunos em suas respectivas salas. Algo que marcou João Eduardo foi o fato do professor Ivan perguntar o nome de cada um dos 40 alunos e depois repeti-los sem errar um sequer. Na sequência a direção foi assumida por Luiz Ribeiro, chamado de professor Ribeiro, que ensinava os alunos desde pequenos atos, como não jogar lixo no chão. O egresso aponta que há 25 anos atrás já se pensava em ações de sustentabilidade.

João Eduardo iniciou sua jornada na Escola Agrotécnica aos 14 anos de idade, era residente do quarto 03 do alojamento, ele destaca que aqui chegou um menino, para um curso integral e viu no professor Barba, Elson, um pai. “Uma pessoa que eu tenho uma admiração e respeito muito grande. Ele tinha nós como filhos e nós tínhamos ele também como pai. Era uma pessoa que ele cuidava da gente, ele cuidava de fato”. Para o egresso o professor Barba era um espelho, pôde aprender muito com ele e o professor fazia questão de participar os alunos de sua vida familiar.9Q6A0890 1

“Todos os professores, de certa forma, sem exceção, sempre me inspiraram. Além deles nos tratarem como filhos, tinham a preocupação de formar boas pessoas aqui, para que essas pessoas pudessem ter um futuro, ter um bom emprego, uma boa posição dentro do mercado de trabalho e tudo mais. Eles eram nossos espelhos, eram o meu espelho”.

A vivência na zona rural foi de bastante valia para João Eduardo, pois ter crescido na fazenda em que o pai trabalhava lhe deu uma série de experiências que os outros colegas não tinham. Ele se recorda que aprendeu a ordenhar manualmente com o avô e tal habilidade era demonstrada por ele e mais um colega de turma. Na Zootecnia I, o garoto tornou-se um dos ordenhadores das cabras, pôde lidar com a caprinocultura de maneira geral, avicultura, cunicultura e sua área de conhecimento animal foi se expandindo cada vez mais, pois lidavam com o manejo de todos os animais da Escola. Ele ri ao lembrar que havia três bodes reprodutores na Escola e cada um deles tinha o nome de um presidente.

João Eduardo conta que aprendeu a fazer algo na Escola que é motivo de gratidão por parte de sua esposa. Na época havia o abatedouro de frangos, coelhos e caprinos e ele aprendeu a desossar um frango com o professor Antônio Donizetti. Não era um aprendizado obrigatório, mas ele se interessou a aprender e toda vez que precisa desossar um frango se recorda do tempo vivido na Instituição.

O professor Luiz Gratieri ministrava a disciplina de Agricultura I e contava com a ajuda do técnico administrativo conhecido como Tião Cascavel. O aprendizado que ambos proporcionaram para João Eduardo é motivo de gratidão pelo egresso, mas ele se recorda do grau de exigência de Tião. Ao terminarem um canteiro, que chegavam a passar uma régua para que ficasse o mais alinhado possível, o Tião Cascavel era chamado para avaliar e sempre ouviam: “Está bom, mas poderia ter ficado melhor”.

9Q6A0870 1Do quarto 03 João Eduardo tornou-se morador de setor. Ele passou a residir na ZIII e lidar com gado de leite. Ele assume que até os dias atuais os rebanhos bovinos são sua paixão. Como residente do setor, mesmo antes de cursar as disciplinas ligadas aos animais de grande porte, ele já lidava com os animais e convivia com o professor responsável pelo setor, Marcelo Simão da Rosa. Com quem mantém contato desde então. Ali ele aprendeu muito e compartilhou os ensinamentos com sua família.

Os estudantes da Escola Agrotécnica costumavam ter apelidos que são mantidos até os dias de hoje. Os encontros de egressos são uma prova da força dos apelidos, os amigos se tratam apenas por eles. Com João Eduardo não foi diferente, ele ficou conhecido como João Gir. Todo apelido carrega uma história para ter sido criado e João Eduardo contou que o seu foi em uma aula com o professor Marcelo Bregagnoli.
Durante a disciplina de Agricultura II, o professor Marcelo estava orientando os alunos sobre hibridação de milho e como ter um produto final de qualidade. Entre as comparações que foram feitas sobre as matrizes que deveriam ser usadas no cultivo do milho se falou que utilizar milho de paiol seria como utilizar animais sem raça. O gado Gir foi mencionado como um animal mestiço, João Eduardo logo discordou e o professor Marcelo solicitou uma pesquisa para a próxima aula. João Eduardo passou a ser chamado de João Gir, apresentou para os colegas a pesquisa sobre a pureza da raça e atualmente é um produtor de gado Gir, ação que realiza em paralelo à sua carreira como Engenheiro Agrônomo. “É uma raça pura, originária da Índia. Uma raça que, hoje pensando em leite nos países tropicais, ela está presente em 80% do rebanho nacional”. De acordo com ele, os rebanhos têm entre seus animais a mistura com a raça (sangue) do Gir.

Ao longo da entrevista, o egresso sempre destacava a sua predileção por atuar com o gado e os ensinamentos que adotou para sua vida que aqui foram aprendidos. Ele destaca que o fato de ter atuado em todos os setores na execução dos serviços ajudou a impulsionar sua carreira profissional. Ele se recorda que o professor Marcelo Rosa ensinou a tratar os animais com muito respeito e que o bem-estar dos bovinos era uma prioridade. Os moradores da ZIII acordavam às 3h da manhã para iniciarem a ordenha por volta das 3h30 e às 6h já haviam terminado. Ninguém gritava ou agredia os animais e caso acontecesse algo que o professor reprovasse, a atitude era repreendida imediatamente.

O zelo que João Gir aprendeu a ter com os animais, ele carrega em sua rotina profissional. O entusiasmo em lidar com animais de qualidade era tanto que ele se recorda do nome de duas vacas que eram excepcionais: Pérola e Itumbiara. Ele relembra que as características dos animais eram perfeitas e das exposições que contavam com a participação da Escola Agrotécnica. Inclusive que uma vez, um rebanho de novilhas participou de uma exposição em Guaxupé e foi premiado. “Essas novilhas foram participar do campeonato e, naquele ano, a Escola de Muzambinho fez ‘barba, cabelo e bigode’ lá em Guaxupé”.

Algo que marcou a jornada acadêmica de João Gir na Escola Agrotécnica estava relacionado aos passeios na cidade de Muzambinho. Os meninos podiam ir às quintas-feiras para passearem, conhecerem as moças da cidade, mas os horários eram rígidos. A saída era às 18 horas e o retorno às 23 horas. Havia uma ronda em todos os quartos para verificar que os estudantes estavam ali. “Se a gente não chegasse na escola às 23 horas e a gente faltasse daquela chamada… era problema”. O aluno deveria ir até a sala do servidor para responder a uma chamada especial, a primeira às 19h e a segunda às 23h por alguns meses. Caso faltasse da da chamada especial, a mãe era chamada para vir até a Escola. “Na época a gente achava que era um enjoamento, mas depois a gente passa a entender. Porque eles eram responsáveis por nós, é uma segunda casa mesmo, a nossa família”.9Q6A0883 1

As quintas-feiras marcaram tanto a vida de João Gir que ele começou a namorar uma moça de Muzambinho e, atualmente, ela tornou-se a sua esposa, a Fábia Magalhães Almeida. Eles são pais de um casal: Vitor com 14 anos e Lara com 9. “Eu sou casado com a Fábia há 16 anos”. Será que João Gir teve que responder a chamada especial várias vezes?

A reportagem especial com o João Eduardo aponta a admiração que ele mantinha e mantém por seus professores. Por tê-los como espelho, o jovem da época vislumbrou fazer um curso superior, pois queria ser docente como seus mestres. Ele não conseguiu ser aprovado no primeiro processo seletivo, foi fazer cursinho, mas o pai ficou desempregado. Mesmo querendo fazer um curso superior, seria o primeiro de sua família a conquistar tal feito, ele se viu na obrigação de largar o cursinho e ir trabalhar para ajudar o pai.

João Eduardo foi trabalhar em Campinas, São Paulo, com plantas, mas sempre gostou de animais de grande porte. A sua formação técnica na Escola Agrotécnica lhe rendeu base para atuar em diversos ramos. Ele teve destaque em suas atividades laborais e foi incentivado a fazer faculdade de Agronomia. O sonho do curso superior voltou a fazer parte da vida de João Eduardo. Retomou os estudos e foi aprovado na Universidade Federal de Lavras e de lá saiu somente quando concluiu seu doutorado.

O plano era ser professor, como seus mestres da Escola Agrotécnica, quem sabe servidor da casa, atuar com pesquisa e poder transformar a vida de muitos jovens, assim como a sua havia sido transformada. No entanto ele aproveitou as oportunidades que a vida lhe reservava e ingressou em uma empresa privada, lá trabalha até hoje. Como agrônomo tem realizado muitos trabalhos, é bem-sucedido e feliz em sua carreira.

O sucesso profissional do João Eduardo, João Gir para os agricolinos, fez com que ele tivesse a oportunidade de buscar uma parceria com o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho. O espaço que para ele era conhecido como Escola Agrotécnica Federal de Muzambinho, agora poderá voltar a ser um espaço para trocas de experiências. Ele terá a chance de compartilhar com os estudantes do Campus a sua bagagem profissional e ensinar mesmo sem atuar como professor.

Aqui ele vê um seleiro de grandes profissionais e espera que possam ser colegas de trabalho. João Gir acredita que a Escola teve uma importante participação em sua vida profissional e pessoal. O egresso acredita que o IFSULDEMINAS - Campus Muzambinho pode ir cada vez mais longe. “Eu falo que aqui no Instituto Federal do Sul de Minas, você forma uma boa pessoa e um bom profissional, com qualificações técnicas e uma pessoa de fato muito bem informada, com caráter. Então, eu levo isso para a vida, eu tenho isso comigo”.

Texto e fotos: ASCOM - Campus Muzambinho

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